Ideias que podem te ajudar a expressar sentimentos e organizar a bagunça interna.

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Desde os primórdios o ser humano busca formas de materializar seus sentimentos. Os egípcios criaram mais de 600 hieróglifos para muitas finalidades dentre elas contar histórias. Tribos indígenas organizavam círculos ritualísticos (para recreação) onde cada integrante cantava seu nome e no final se obtinha um som harmônico. Os homens das cavernas faziam pinturas rupestres nas paredes das cavernas e acreditavam que aquilo ajudava na caça. Os alquimistas medievais foram mais longe ainda, mesmo que metafisicamente, tentaram construir a famosa pedra filosofal, acreditando conter algo que não pode ser perdido ou dissolvido, algo eterno parecido com a experiência mística de Deus, algo que pudesse armazenar a essência de um indivíduo, inclusive foram encontrados manuscritos de que Isaac Newton (que foi um alquimista) detalhando elementos para construção da pedra.

Para o neurobiólogo chileno Humberto Maturana, somos seres “linguajantes”, segundo ele, existe uma característica natural do ser humano em expressar e materializar seus sentimentos. O tempo passou e até hoje continuamos a busca a fim de encontrar formas diferentes de expressar o que criamos em nossas mentes, é como se sempre estamos criando algo internamente meio nebuloso que necessita alcançar a luz para ser visualizado.

Nossa mente funciona mais ou menos como uma avenida sem sinalização cheia de carros, motos e caminhões, com motoristas eufóricos (e embriagados) querendo seguir direções diferentes. É uma bagunça! E quando não organizamos nossos pensamentos, sofremos com vários problemas de desorientação.

E é justamente na arte, na escrita, na música e entre outras formas que conseguimos organizar nossos pensamentos e entendê-los.

Pedra Filosofal

Lair é morador de uma pequena cidade chama Luzilândia, no interior do Piauí. Ele conta, entre um gole no suco de laranja e beliscadas nos petiscos do restaurante, que possui uma estratégia curiosa e retrograda para materializar seus sentimentos, que consiste em escrever cartas sem nunca entregar ao destinatário.

“Hoje não faz muito sentido enviar cartas, no entanto é muito útil para mim quando eu as escrevo para expressar meus sentimentos. Então eu coloco no papel tudo aquilo que está preso em minha garganta, parece que eu consigo me expressar verdadeiramente transcrevendo meus pensamentos. No final eu pego a carta e guardo em um baú fechado com chave.”

Lair não poderia estar mais certo, a Psicóloga Raissa Scarin explica que “escrever pensamentos no papel ajuda as pessoas, especialmente as mais sensíveis a lidar com o sentimento”, é como se os pensamentos estivessem todos embaralhados e coloca-los no papel é uma ótima ferramenta para ajudar a organizar.

Já Matheus que conta 15 anos, gosta de expressar seus sentimentos compondo músicas: “Comecei quando contei para minha psicóloga que gosto de tocar violão e então ela sugeriu que eu tentasse fazer letras para acompanhar a melodia. No começo foi bem difícil, mas depois de algumas tentativas consegui compor algumas letras mentais, muito pessoal”.

Enquanto isso, Neide encontrou na oficina de pintura para a terceira idade oferecido pelo centro cultural do bairro Jardim Guarujá em São Paulo, uma formula – não mágica, mas libertadora para seus problemas. “Para falar a verdade, meus melhores desenhos são aqueles que faço em casa no ambiente particular, tento usar várias cores e misturá-las para chegar em um tom que me faça feliz. Enquanto desenho vou pensando em muitas questões da minha vida e no final de cada pintura me sinto bem mais leve”.

O Psiquiatra e Psicoterapeuta Carl Jung conta em seu livro “O Homem e seus Símbolos” como é curioso o fato de atribuirmos significado a objetos materiais, para ele é como se transportássemos parte do nosso inconsciente para esses objetos. E é justamente isso que Lair, Matheus e Neide estão fazendo, ou seja, eles estão transferindo ideias, pensamentos, confusões para algo tangível que possa ser percebido pelos sentidos e posteriormente atribuído significado.

O engraçado é que os problemas que eles enfrentam certamente são muito comuns, por isso que muitas vezes nos identificamos tanto com uma música, um texto, uma obra de arte. O filósofo Schopenhauer certa vez disse: “A essência da arte reside no fato de que uma mesma situação se aplica a milhares de pessoas”.

Que seja no papel, música, quadro ou quem sabe uma pedra filosofal, a ideia que deixo é tentarmos encontrar uma forma para materializar nossos sentimentos, e são inúmeras. Também nos cabe decidir se vamos deixar nossos sentimentos materializados guardados em um baú, ou expor a público como uma arte da vida.

Eu mesmo estou seguindo a ideia do Lair, de escrever cartas expressando meus sentimentos e tem sido muito útil. Vamos fazer?