“Quantas pessoas poderíamos ter tirado ‘para dançar’ na vida e não o fizemos por ofertar sacrifícios ao nada? Sacrifício ao deus da timidez, ao deus da vergonha, ao deus do medo de ser rechaçado e assim por diante.” Pág. 59 do livro “A alma Imoral” de de Nilton Bonder.

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Sabe quando nós deixamos de fazer algo só porque a nossa moral fala no ouvido: “não”? E quando a vontade se torna maior e a moral dessa vez grita “Não!…ou encare as consequências” e ainda quando fazemos [ato imoral], e a moral diz no ouvido com uma voz rouca e peçonhenta: “veja o que você fez, sujo pecador”. Esse último é pior ainda porque ela gosta de ficar repetindo nos momentos mais inoportunos: “Sujo”, “pecador”, “errado…”

Outro dia uma amiga me confessou que estava com um peso na consciência porque tinha colado na prova. Ironicamente afirmei: “mas você foi aprovada graças a esse delito” Ela então respondeu triste: “Sim, mas isso foi imoral da minha parte, não deveria ter o feito”. Outro amigo confessou que estava insatisfeito com seu relacionamento, que queria ser livre novamente mas não sabia como terminar, para piorar ele já tinha sido infiel duas vezes.

Lembro que na minha infância costumava aguardar pelo castigo de D’us pelos meus atos imorais, certamente eles viriam não sobre mim, mas sobre minha mãe, o que tornaria a dor maior ainda.

A peça de teatro a “Alma Imoral” nos ajuda a entender sob uma perspectiva que a Alma, diferente da definição popular, seria nada mais do que o componente consciente da necessidade de evolução, a parcela de nós capaz de romper com os padrões e com a moral. Sua natureza seria, portanto, transgressora e “imoral”, por não corroborar os interesses da moral. Isso significa que podemos evoluir e aprender sendo imorais.

Para a Bíblia, não existe dualidade na essência do ser humano, mas sim a possibilidade da escolha – da obediência e da desobediência. Assim, por alma não devemos entender nenhuma outra ordem distinta do corpo. A necessidade de uma dualidade que gera o termo “alma” se encontra nessa capacidade humana de optar entre cumprir ou transgredir.

A jovem que colou na prova e o rapaz que traiu simplesmente foram eles mesmos em sua própria natureza, a transgressão permitiu um contato direto com sua verdadeira alma. Minha mãe que me perdoe, mas eu realmente já senti ora felicidade, ora alívio em um ato imoral.

Compreender que a alma por sua natureza é imoral pode aliviar o peso que muitas vezes carregamos nas costas.

A peça a “Alma Imoral” é uma adaptação teatral do livro “A Alma Imoral”, de Nilton Bonder. A obra nos faz refletir sobre o certo e o errado, a obediência e a desobediência, a tradição e a transgressão, a hipocrisia e a honestidade, além de aproximar temas como religião e biologia.

Se me pedissem para deixar uma frase que define essa peça e esse livro, eu diria: “Somos livres”. E para finalizar, confira alguns trechos do livro “A Alma Imoral”, tente imaginá-los na peça.

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Até 24 de Setembro

Teatro Eva Herz

Avenida Paulista, 2073 – (Conjunto Nacional – 1º Piso) – Bela Vista – São Paulo – SP, 01311300

(11) 31704059

Ingressos [/toggle]

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Alguns trechos do livro “A alma imoral”

“O ser humano é talvez a maior metáfora da própria evolução, cuja tarefa é transgredir algo estabelecido.” – pág. 13.

“Ousaria dizer que tudo que é positivo para a vida é o que não se dissimula.” – pág. 22

“Entenda-se por infidelidade tanto o rompimento de compromissos como a manutenção dos mesmos de forma destrutiva.” – pág. 35

“Deixar sua cultura e seu passado em nome de um futuro é saber recompor a tensão entre corpo e alma, aprendendo a romper por conta das demandas do futuro e não só pelas demandas do passado.” – pág. 38

“A proposta da imutabilidade é mais do que indecorosa: ela violenta um indivíduo. Ela propõe que continuemos a fazer o que foi feito no passado.” – pág. 39

“E quantos de nossos esforços e sacrifícios são, na verdade, ‘oferendas’ ao nada?” – pág. 58

“Aquele que engana a si mesmo é mais perverso do que o que engana os outros.” – pág. 60

“Existe em nós uma tendência de querer agradar a nós, aos outros e à moral de nossa cultura. Com isso vamos gradativamente nos perdendo de nós mesmos.” – pág. 64

“Aqueles que se permitem transgressões da alma com certeza são vistos e recebidos pelos outros como estrangeiros. Os que mudam de emprego radicalmente, os que refazem relações amorosas, os que abandonam vícios, os que perdem medos, o que se libertam e os que rompem experimentam a solidão que só pode ser quebrada por outro que conheça essas experiências. A natureza da experiência pode ser totalmente distinta, mas eles se tornarão parceiros enquanto ‘forasteiros’.” – pág. 66

“Achar-se – e o ancião tentar revelar este segredo ao jovem – é construir identidades e desfazer-se delas.” – pág. 69

“O que ainda não é, só se faz sob o sol quando abrimos mão da obediência. Não a obediência em relação ao outro, mas a que impomos a nós mesmos ou a de outros que introjetamos como se fosse nossa.” – pág. 70

“Se em teoria o ‘caminho do meio’ nos parece mais equilibrado e maduro, em termos da alma o rabino de Kotzk tem razão – qual é o ser humano que, profundamente mobilizado por uma intenção e sedento pelo sagrado, pode deixar de ser passional e extremista? Como estar apaixonado e ser moderado? O ‘caminho do cavalo’ representaria a postura daquele que teme a experiência radical de romper com o padrão e a expectativa da maioria.” – pág. 75

“A vida saberá nos julgar não apenas pelas ‘perversidades’ que acreditamos poder evitar, mas também pelas ‘tolices’ que nos permitimos.” – pág. 77

“Quando uma pessoa deixa de ficar satisfeita com seu negócio ou com sua profissão, é certamente um sinal de que não o está conduzindo honestamente. (New.Antho. 194).” – pag. 79

“O rabi Bunan (Buber, Late Masters, p. 257) adverte que os ‘pecados’ que um indivíduo comete não são o pior crime realizado por ele. O verdadeiro crime do ser humano é que ele pode dar-se ‘uma simples volta’ a qualquer momento, mas não o faz.” – pág. 81

“Aquele que não faz uso de todo o potencial de sua vida, de alguma maneira diminui o potencial de todos os demais. Se fôssemos todos mais corajosos e temêssemos menos a possibilidade de sermos perversos, este seria um mundo de menos interdições desnecessárias e de melhor qualidade.” – pág. 82

“O inconformismo das pessoas diante dos que estão em processo de rompimento com conceitos e propostas do passado também decorre do medo e desconforto profundos produzidos pela identificação com essa postura.” – pág. 112

“Será um mundo de traidores que não serão crucificados. Será um mundo que descobrirá que quem crucifica não são os outros, mas nós mesmos.” – pág. 117

“Ainda cometeremos muitas crucificações, mas a derradeira, a que realmente está em jogo, é a nossa. Se não encontrarmos alguma forma de paz formada de tensão entre nosso corpo e nossa alma, entre nossa moral animal e nossa imoralidade, estamos ameaçados de não redimirmos nossa espécie.” – pág. 118

“As roupas que vestem de moral as intenções humanas nos tornam prisioneiros de uma realidade que nos poda, nos restringe e ameaça nossa sobrevivência. Poder enxergar-se nu, no entanto, é uma traição ao animal consciente difícil de se bancar.” – pág. 122

“A resolução do conflito está em seu reconhecimento e no estabelecimento de relações entre homens e mulheres que aceitem essas tensões como inerentes à própria vida. O mundo ideal do futuro será um mundo também de tensões, mas estas não serão projetadas sobre o outro.” – pág. 128

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