Conforme a sociedade vai mudando e se transformando, novas e mais sofisticadas formas de expressão do preconceito e do racismo têm surgido. Um estudo recente identificou seis novas formas, que você pode conferir logo abaixo.
Mas antes é importante entender alguns conceitos:
Preconceito é uma atitude. É uma antipatia em função da generalização falha e inflexível dirigida a um grupo ou a uma pessoa que pertence a determinado grupo. Já o racismo é o processo de hierarquização, exclusão e discriminação baseado na raça-etnia.
As seguintes formas de racismo são veladas, ou seja, são formas não explícitas e encobertas, onde é necessário ter consciência delas e empoderamento para saber identificar.
Racismo Simbólico
“Negros violam valores tradicionais (ameaça simbólica)”
Essa forma de racismo se baseia em sentimentos e crenças de que os negros violam os valores tradicionais americanos do individualismo ou da ética protestante (obediência, ética do trabalho, disciplina e sucesso).
Nessa perspectiva as atitudes contra os negros decorrem menos da percepção por parte do grupo dominante de que os negros constituem uma ameaça econômica concreta, e mais da percepção dos negros como uma ameaça simbólica, ameaça aos valores e à cultura do grupo dominante. Os negros são percebidos como violadores dos valores que mantêm o status quo das relações inter-raciais.
Exemplos de racismo simbólico pode ser encontrado no Genocídio de Paraisopólis.
Racismo Moderno
“Negros recebem mais do que merecem, violando o direito de igualdade entre todos.”
Reflete a percepção de que os negros estão recebendo mais do que merecem e violando valores importantes para os brancos. Os valores importantes em questão são a igualdade e a liberdade.
O racismo moderno se baseia nas seguintes crenças:
a) A discriminação é uma coisa do passado porque os negros podem agora competir e adquirirem as coisas que eles almejam;
b) Os negros estão subindo economicamente muito rápido e em setores nos quais não são bem-vindos;
c) Os meios e as demandas dos negros são inadequados ou injustos e,
d) Os ganhos recentes dos negros não são merecidos e as instituições sociais lhes dão mais atenção do que eles deveriam receber
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Racismo Aversivo
“Parece ter aversão ao racismo, mas sente desconforto. Possui comportamento de esquiva e evitação de contato.”
É a hipótese de que quando as pessoas são defrontadas com situações de contato inter-racial nas quais a resposta apropriada é clara, em que o certo e o errado estão claramente definidos, os racistas aversivos não discriminam os negros, pelo contrário, eles endossam tratamento igualitário para negros e brancos. Entretanto, quando a norma igualitária não está explícita na situação ou existe um contexto que justifica a discriminação, os racistas aversivos discriminam os negros.
Os sentimentos negativos em relação aos negros que caracterizam a ambivalência, nos racistas aversivos não são sentimentos de hostilidade ou ódio, mas de desconforto, nervosismo, ansiedade e algumas vezes medo das pessoas negras. Estes sentimentos ou melhor dizendo, estas emoções motivam mais a evitação do contato próximo do que comportamentos destrutivos e violentos.
Racismo Ambivalente
“Visão polarizada (exagero da resposta). Diante do desconforto frente aos negros, ou discrimina ou privilegia “demais”.”
A título de ilustração dos efeitos da ambivalência no racismo, podemos referir um desses muitos exemplos de expressão do preconceito com que nos confrontamos na vida quotidiana.
Num programa infantil na TV, vimos uma cena na qual uma apresentadora branca colocava no colo crianças do auditório. Ela pegava a criança, fazia um ligeiro afago, e em seguida entregava para uma das suas assistentes. Ela fez isto com seis ou sete crianças brancas uma após a outra; a criança seguinte era uma menina negra. A apresentadora mudou todo o seu esquema gestual, além do afago beijou repetidamente a criança, antes de entregá-la para a sua assistente.
Portanto, a ambivalência resulta da dupla percepção de que os negros são desviantes e, ao mesmo tempo, estão em desvantagem em relação aos brancos. A ambivalência de sentimentos e atitudes normalmente gera uma tensão e um desconforto psicológico. A apresentadora de TV, ao sentir esse desconforto, exagerou sua atitude com a criança, a privilegiando “demais”.
A ambivalência estrutura dois tipos de atitudes, as atitudes pró e as atitudes anti-negros. As atitudes anti-negros incluem crenças e avaliações sobre as características de “desvio cultural” e associam aos negros afetos negativos.
As atitudes pró-negros refletem a percepção de desvantagem dos negros e produzem afetos positivos, tais como piedade e simpatia.
Preconceito Sutil
“Indireto, frio, mais velado, nega possíveis emoções positivas frente ao exogrupo, inclui preconceito contra imigrantes. “
É uma forma mais velada ou disfarçada de preconceito, muito comum contra imigrantes, é composto por três dimensões.
Dimensão da defesa dos valores tradicionais. Esta dimensão se refere à percepção dos membros do exogrupo como estando agindo de maneira incorreta e mesmo condenável na busca da realização social. Esta dimensão é mensurada por meio de questões referentes à crença de que os membros do exogrupo não se esforçam o suficiente ou não possuem os valore adequados.
Dimensão do exagero das diferenças culturais, que se refere à percepção de que o exogrupo é culturalmente muito diferente do endogrupo (e.g., “Os ‘X’ possuem valores e comportamentos sexuais muito diferentes dos cidadãos nacionais”).
Dimensão da negação de emoções positivas caracteriza-se pela rejeição à expressão de simpatia e admiração com relação aos membros do exogrupo.
Racismo Cordial
“Presente em contextos multirraciais. Discriminação contra não brancos. Envolve o mito da democracia racial.”
Envolve piadas, ditos populares e brincadeiras de cunho “racial”. Muito comum no Brasil, envolve ditos como: “Negro bom é negro de alma branca”, “Negro, quando não faz besteira na entrada, faz na saída”, “Bolo nega maluca”, etc.). “Trata-se de um racismo sem intenção, às vezes de brincadeira, mas sempre com consequências sobre os direitos e as oportunidades de vida dos atingidos”. Não obstante essa aparente falta de intenção e sutileza de expressão, o racismo à brasileira nada tem de cordial, pois implica num cenário sinistro de discriminação e exclusão das pessoas negras.
Fonte: Estudos de Psicologia 2004, 9(3), 401-411.