Os livros infantis são uma fonte inestimável de informações e saberes. Eles refletem as atitudes em nossa sociedade sobre diversidade, relações de poder entre diferentes grupos de pessoas e várias identidades sociais (por exemplo, racial, étnica, de gênero, classe econômica, orientação sexual e deficiência).
As mensagens visuais e verbais que as crianças pequenas absorvem dos livros (e outras mídias) influenciam fortemente suas ideias sobre si mesmas e sobre os outros. Dependendo da qualidade do livro, elas podem reforçar (ou minar) o autoconceito afirmativo das crianças, ensinar informações imprecisas (ou enganosas) sobre pessoas de várias identidades e promover atitudes positivas (ou negativas) sobre a diversidade.
Os livros infantis ensinam às crianças quem é importante, quem importa e quem é visível. Consequentemente, a escolha cuidadosa de livros infantis de qualidade é uma tarefa educacional e educativa indispensável. É importante oferecer às crianças uma série de livros sobre pessoas como eles e sua família – bem como sobre pessoas que são diferentes deles e de sua família.
Embora exista um esforço em produzir livros inclusivos, Infelizmente no Brasil e no mundo esse material ainda é muito escasso. À medida em que lutamos por uma sociedade mais justa, selecionar livros com cuidado se torna uma tarefa muito importante. Para ajudar, a organização Social Justice Books forneceu algumas dicas que podem ajudar muito.
Guia para escolher um livro infantil com diversidade e inclusão, livre de racismo e sexismo:
1. Verifique as ilustrações
Procure estereótipos: Estereótipo é o conceito ou imagem preconcebida, padronizada e generalizada estabelecida pelo senso comum, sem conhecimento profundo, sobre algo ou alguém (por exemplo, sexo, raça, etnia, classe, orientação sexual, habilidade / deficiência), que geralmente carrega mensagens depreciativas e imprecisas e as aplica a todas pessoas de um grupo.
Os estereótipos desumanizam as pessoas. O mesmo acontece com informações erradas e imprecisas. Todos nós absorvemos estruturalmente os estereótipos socialmente prevalentes e muitas vezes não temos consciência disso. O ideal é que os livros representem as pessoas como indivíduos genuínos, com características distintas (e não estereotipadas).
Livros já adquiridos contendo estereótipos podem ser úteis para envolver as crianças em pensamentos críticos, mas para compras futuras, certamente deve ser evitado.
Tabela 1: Estereótipos prejudiciais / comuns
Meninas / Mulheres fortes e independentes são “masculinas” | As pessoas com deficiência não são independentes ou sentem pena delas. |
Meninos / homens amantes de livros ou não-atléticos são “efeminados” | As pessoas com deficiência devem “superar” suas deficiências, em vez de viver com elas. |
Os homens latinos falam engraçado, são preguiçosos, fazem parte de gangues ou usam sombreros grandes | Não há representação de pessoas LGBTQI + |
As mulheres latinas são mães terrenas ou subservientes | Não há representação de pessoas pobres |
Homens negros são membros de gangues, musculosos, ou subempregados | As pessoas pobres são retratadas como passivas e precisam da ajuda de outras pessoas. |
As mulheres negras são mães solteiras ou “assistenciais” | Povos provenientes da Ásia Pacífico são descritos como a “minoria” |
Homens árabes e / ou muçulmanos são terroristas | Os alimentos provenientes da Ásia Pacífico são exóticos e anormais |
As mulheres árabes e / ou muçulmanas não falam e são passivas | Todos da Ásia Pacíficos conhecem artes marciais ou são calmos e compassivos |
Todos os muçulmanos são árabes / Todos os árabes são muçulmanos | Personagens da Ásia Pacífico são retratados com olhos puxados ou apenas linhas representam seus olhos |
Os índios vivem em tendas, carregam arcos e flechas ou ficam seminus no inverno |
Procure por Tokenismo: isso significa fazer apenas um esforço superficial ou simbólico para ser inclusivo para membros de minorias, especialmente recrutando um pequeno número de pessoas de grupos sub-representados para dar a aparência de igualdade racial ou sexual dentro de uma força de trabalho.
Exemplos de Tokenismo incluem livros com apenas uma criança negra entre muitas crianças brancas ou apenas um livro sobre crianças com deficiência entre muitos outros livros. O tokenismo favorece os estereótipos e permite que as crianças tenham apenas uma visão de um grupo de pessoas, e não enxerguem a diversidade que existe entre todos os grupos.
Procure invisibilidade: Os livros são grandes portadores de saber. Eles podem ensinar sobre quem importa e quem não importa, quem existe e quem não existe em nossa sociedade. A invisibilidade em livros de histórias, bem como em livros didáticos, prejudicam o senso afirmativo das crianças e reforça ideias preconceituosas sobre pessoas que não são vistas.
Tabela 2: Exemplos de grupos de pessoas que muitas vezes são invisíveis nos livros infantis ou na mídia convencional
Famílias que vivem em áreas rurais | Famílias sem-teto |
Trabalhadores de colarinho azul | Famílias com um pai ou mãe encarcerada |
Músicos, artistas, escritores | Pessoas de descendência do Oriente Médio |
Famílias com dois pais ou duas mães | Famílias que praticam o Islã ou Religiões Tradicionais Africanas |
Mães ou pais solteiros | Adultos e crianças transexuais |
Verifique a história e as relações entre as pessoas
Mesmo que um livro mostre diversidade visual, o enredo pode apresentar vieses relacionados à maneira como lida com relações de poder entre pessoas de várias identidades.
Brancos ou personagens masculinos são as figuras centrais e pessoas negras ou personagens femininos representam papéis essencialmente de apoio?
Para obter aceitação e / ou aprovação, uma criança negra, uma menina ou uma criança com deficiência precisa exibir qualidades extraordinárias ou ser a única a entender, perdoar ou mudar?
As conquistas de meninas e mulheres são baseadas em sua própria iniciativa e inteligência, ou são devidas à aparência ou ao relacionamento com meninos / homens?
Pessoas negras, mulheres, famílias de baixa renda ou pessoas com deficiência são retratadas como necessitadas de ajuda ou em papéis passivos, enquanto brancos, homens e pessoas “fisicamente capazes” estão em papéis de liderança e ação?
Como os problemas são apresentados, concebidos e resolvidos? Quem normalmente causa um problema e quem o resolve? O ideal é que os livros mantenham um equilíbrio de pessoas diferentes em papéis de “executores”.
Veja as mensagens sobre diferentes estilos de vida
Na história, a vida de pessoas negras ou pessoas que vivem na pobreza contrasta desfavoravelmente com a normalidade da vida de pessoas branca de classe média?
Existem julgamentos de valor negativo implícitos sobre modos de vida que diferem da cultura ou classe econômica dominante (por exemplo, as pessoas devem ter pena ou a história é sobre uma pessoa que “sai” do modo de vida menos desejável)?
As imagens e as informações vão além da simplificação excessiva e oferecem informações genuínas sobre o estilo de vida dos personagens da história?
A narrativa reflete sobre a realidade da vida ou faz uma suposições de como a vida deveria ser?
Sua coleção de livros descreve a diversidade entre as pessoas de um grupo racial / étnico específico, como uma variedade de estruturas familiares, ambientes de convivência, condições socioeconômicas e tipos de trabalho e papéis masculinos / femininos na família? (lembre-se de que todo grupo racial / étnico tem diversidade, incluindo pessoas que se identificam como brancas).
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Considere os efeitos sobre a identidade pessoal e social das crianças
Além de livros específicos, examine também sua coleção de livros. Seus livros reforçam ou neutralizam mensagens que ensinam as crianças a se sentirem inferiores ou superiores devido à cor da pele, sexo, renda familiar, capacidade física ou tipo de estrutura familiar?
Sua coleção de livros proporciona que todas as crianças possam enxergar a si mesmas e o modo de vida diverso das famílias? Todas as crianças negras, incluindo aquelas com herança mista, meninas e crianças com configurações familiares diversas, crianças que vivem na pobreza e crianças com deficiência, verão um ou mais personagens com os quais poderão se identificar rapidamente e positivamente?
Se existe diversidade em sua coleção de livros, as ilustrações e as informações são precisas e respeitosas?
Existe diversidade dentro dos grupos de identidade social aos quais as crianças pertencem (por exemplo, variedade de maneiras de ser mulher e homem, famílias que refletem diferentes tipos de trabalho em um grupo racial / étnico).
Sua coleção de livros também inclui um equilíbrio entre a diversidade dentro e fora da sala de aula? Em casa, sua coleção de livros reflete a diversidade entre os grupos nos quais sua família pertence?
Tem histórias sobre pessoas como você, que contribuem para criar um mundo mais justo? Também inclui uma série de livros que mostram a diversidade além de sua família e comunidade?
Procure livros sobre crianças e adultos envolvidos em ações de mudança
Para desenvolver um fortalecimento pleno e uma disposição em relação à cooperação e à justiça, as crianças precisam saber como se defender e defender os outros, quando confrontadas com a injustiça. Elas também precisam conhecer pessoas de todos os grupos de identidade social que trabalham e estão atualmente trabalhando pela justiça para todos.
Além dos critérios anteriores, esses itens tambem devem ser considerados:
A história deve ser sobre crianças e adultos trabalhando juntos, em vez de perpetuar o mito de que a mudança acontece por causa de pessoas especiais e individuais que fazem isso sozinhas.
A sua coleção de livros inclui um equilíbrio de pessoas que fizeram contribuições importantes e honradas à vida dos Brasileiros – e não apenas os tradicionais “heróis brancos” masculinos?
Alguns de seus livros sobre personagens históricos incluem lutas por justiça? Eles mostram pessoas que são pobres ou pertencem a grupos raciais / étnicos? As pessoas com deficiência estão envolvidas nessas lutas por justiça?
Considere o histórico e a perspectiva do autor ou do ilustrador
Todos os autores escrevem a partir de um contexto cultural e pessoal. No passado, a maioria dos livros infantis foram produzidos por autores e ilustradores brancos e membros da classe média. Como resultado, uma única perspectiva cultural e de classe dominou a literatura infantil.
Atualmente, existem excelentes livros de pessoas negras de diversas origens – embora não o suficiente. Considere o material biográfico, o que qualifica o autor ou o ilustrador para falar sobre o assunto?
Se o autor ou o ilustrador não possui lugar de fala, o que especificamente os qualifica como criadores do livro? Qual é a atitude do autor em relação aos personagens de sua história?
As imagens são precisas e as pessoas na história são ilustradas respeitosamente? Você possui livros que refletem um equilibrio de identidades e experiências de autores e ilustradores?
Preste atenção nas palavras carregadas
Algumas palavras podem estar carregadas com sentidos que podem diminuir ou tornar as pessoas invisíveis por conta de qualquer uma de suas identidades. Um exemplo é o uso genérico da palavra “homem” para representar mulheres e homens (embora o oposto nunca ocorra).
Essa terminologia tradicional agora é questionada por muitos por causa de suas implicações sexistas.
Veja também: 30 expressões racistas.
Verifique o copyright e ano de produção
Um livro pode ter sido publicado em 2017, mas escrito em 1535. Não basta verificar o ano de publicação, é preciso saber quando o material foi escrito.
livros infantis começaram a refletir a realidade de uma sociedade pluralista e perspectivas não-sexistas e não-capacistas a partir da década de 1970. Desde então, a gama de livros precisos, respeitosos e atenciosos, que refletem a diversidade aumentou significativamente (infelizmente no Brasil, os livros ainda não refletem a diversidade que existe em nossa realidade).
Ao considerar novos livros para sua coleção, comece pelos livros escritos recentemente.
Avalie o apelo da história e ilustrações para crianças pequenas
Embora essas diretrizes foquem nas mensagens sobre diversidade e igualdade refletidas nos livros infantis, também é importante levar em consideração a qualidade.
Verifique se o livro é uma “boa leitura”. Se a criança achar a história ou as ilustrações chatas, o livro não chamará sua atenção, mesmo que contenha o tipo específico de diversidade que você quer transmitir.
Verifique se há histórias ativas e interessantes em que diferentes tipos de pessoas são parte integrante dos personagens da história, não o tema principal.
Por exemplo, em “A Chair for My Mother”, uma criança pequena tenta economizar dinheiro para conseguir uma cadeira confortável para a mãe garçonete. Embora o livro mostre uma mãe solteira, uma família da classe trabalhadora e uma garota engenhosa, não é didático.
Procure também ilustrações coloridas e reconhecíveis para crianças pequenas. Embora elas gostem de uma variedade de estilos, ilustrações muito discretas ou abstratas podem não prender sua atenção.
Verifique a adequação à idade.
A livrarias listam qualquer livro ilustrado como apropriado para a primeira infância, mesmo que o enredo seja destinado para crianças do ensino fundamental.
Às vezes, um livro para crianças mais velhas só funcionará se você simplificar a história ou “contar” a história em vez de lê-la. Em alguns casos, essa é a única maneira de obter livros que apresentem grupos específicos de crianças (por exemplo, histórias com crianças cambojanas ou crianças com dificuldades de aprendizagem).
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Algumas questões adicionais:
Muitos livros infantis usam animais como personagens em vez de pessoas. Existem alguns livros excelentes que exploram a diversidade com personagens animais e as crianças gostam disso. No entanto, esses livros não substituem a necessidade de explorar questões de diversidade e justiça contra preconceitos, tendo pessoas como personagens principais.
Alguns professores que atendem crianças na primeira infância se perguntam se é necessário que todos os livros de sua coleção mostrem diversidade. Todo livro precisa ser preciso, cuidadoso e respeitoso. A diversidade é essencial no equilíbrio da coleção de livros, no sentido de evitar a invisibilidade ou o tokenismo de qualquer grupo.
Os contos populares e de fadas são um dos pilares da literatura infantil. Quando criados, foram pensados para ensinar lições e valores importantes relacionados à sua cultura de origem. As crianças os amam em suas versões originais – não em suas adaptações comercialmente higienizadas. No entanto, eles também transmitem mensagens que transmitem sexismo, classismo e racismo e devem ser usados com cuidado como parte da introdução de crianças pequenas à diversidade e aos valores antiracistas e justiça.
O uso excessivo de contos populares para “ensinar” sobre um grupo étnico / cultural específico leva a desinformação e confusão. Eles são sobre animais (que as crianças nunca viram), ocasionalmente pessoas de um passado mítico e são projetados para ensinar valores e crenças fundamentais em sua cultura de origem.
Eles não são sobre como as pessoas realmente vivem na sociedade contemporânea – e é isso que as crianças pequenas precisam entender. Informações e imagens sobre como as pessoas realmente vivem agora é o que permite que as crianças construam conexões com pessoas de culturas diferentes, combatendo estereótipos que as crianças já absorveram (por exemplo, como os índios realmente vivem).
Finalmente, há a questão um pouco sensível do que fazer com os livros infantis “clássicos”. Muitos deles são maravilhosos como literatura infantil, mas infelizmente transmitem valores de sexismo, racismo, capacitismo ou mesmo colonialismo.
Algumas pessoas argumentam que não há problema em utilizá-los porque eles “refletem seus tempos”, o que eles ensinam, de alguma forma desculpam suas mensagens tendenciosas.
Por exemplo, adorei a série de livros Babar quando criança e fiquei desagradavelmente chocado ao perceber, quando adulto, o quanto as imagens e as histórias refletiam as mensagens do colonialismo europeu na África.
Eu escolhi não utilizá-los com meus próprios filhos, querendo que eles aprendessem informações precisas sobre como as pessoas na África realmente vivem. Não compartilhar os próprios livros favoritos quando criança pode ser triste, mas é muito melhor evitar isso do que causar danos com mensagens de racismo e colonialismo.
Conheça o livro infantil com 12 histórias sobre diversidade
O livro Universos Diversos em Diversos Universos foi pensado seguindo todas essas diretrizes. Produzindo por um grupo de 43 estudantes universitários do curso de Psicologia, que, a partir de uma proposta docente, se dedicaram com afinco para fazer uma publicação que viesse a contribuir com um projeto de sociedade mais humana, que respeite as diferenças em sua beleza.
Histórias:
- A beleza das flores 25
- O elefante Abeo 33
- As descobertas de Pingo 37
- Um rio de sentidos 47
- As asas de Toninho 57
- Os três porquinhos e a fórmula secreta 65
- O universo de Lucas 71
- O que aprendi com Alejandro 75
- Desafios de Vitor 83
- Pretinha, a formiguinha 93
- A lição de Milena 105
- Do que vão me chamar? 113
É possível adquiri-lo nas principais lojas online
Submarino
Americanas
Shoptime
Fontenele Publicações
Texto baseado no artigo “Guide for Selecting Anti-Bias Children’s Books” da organização Social Justice Books.