Muitas disciplinas a como a biologia, química, física e psicologia estética, consideram a simetria um dos princípios mais importantes da natureza, bem como um poderoso determinante de beleza.

Mas será mesmo que existe características universalmente aceitas, através dos séculos e das culturas, como sendo universalmente atraentes?

Para ampliarmos a discussão sobre esse assunto e talvez chegar em um horizonte comum, reunimos dois estudos: O primeiro é do jornalista científico, David Robson, que levantou algumas causas formais a respeito da beleza universal e o segundo é um artigo científico da Universidade de Viena, sobre simetria.


Segundo Robson, certas características biológicas podem sinalizar saúde, aptidão física e fertilidade – os ingredientes de um bom parceiro. No entanto, quanto mais biólogos e psicólogos têm estudado, mais difícil tem sido encontrar uma base puramente biológica para a beleza.

Considerando o fato aparentemente aceito de que preferimos características simétricas e equilibradas, a explicação científica parece sólida: a doença e o estresse durante a infância podem influenciar sutilmente o desenvolvimento do corpo, criando uma “instabilidade” que leva um lado a crescer um pouco diferente do outro. Um rosto levemente torto deve, portanto, ser um sinal de fraqueza física – tornando-o menos atraente.

O problema dos estudos que comprovaram esse efeito, foi que eles utilizaram uma base muito pequena de indivíduos para realizar a pesquisa, facilitando o surgimento dos resultados do acaso.

Quando Stefan Van Dongen, da Universidade de Antuérpia, combinou os resultados de vários estudos numa grande meta-análise, descobriu que o efeito quase desaparece quando se considera uma quantidade suficiente de pessoas. Isso quer dizer que a simetria facial pode nem sequer dizer muito sobre a sua saúde.

Apesar de pesquisas anteriores terem encontrado alguma evidência para a ideia, um estudo de 2014 digitalizou em 3D o rosto de quase 5.000 adolescentes e os questionou sobre seu histórico de saúde. Esse estudo descobriu que aqueles com as características mais simétricas não eram mais aptos que os não-simétricos.

Os biólogos tinham também levantado a hipótese de que preferíamos rostos que simbolizam a “masculinidade” ou “feminilidade” do seu gênero. Mais uma vez, a lógica era sólida: A estrutura óssea reflete os hormônios sexuais que circulam através do nosso sangue, para que pudessem evidenciar a fertilidade de uma mulher e traços como a dominância nos homens – considerações “importantes” quando se escolhe um parceiro.

No entanto, a maioria dos estudos examinou apenas as sociedades ocidentais. Quando Isabel Scott, da Universidade de Brunel, e seus colegas, decidiram lançar a rede de pesquisa sobre uma área mais ampla – em comunidades da Ásia, África, América do Sul e Rússia, eles encontraram uma variedade de preferências. De fato, foi somente nas regiões mais urbanizadas que encontraram a forte atração por homens mais masculinos e mulheres mais femininas; nas comunidades menores e mais remotas, muitas mulheres realmente preferiram os homens mais “femininos”.

A simetria não é uma lei universal da beleza

…Pelo menos foi o que concluiu esse estudo realizado pela Universidade de Viena.

O estudo realizado em 2018, reuniu um grupo de 27 especialistas em arte e outro grupo de 26 não especialistas em arte. A hipótese foi verificar como cada grupo avalia a beleza de elementos gráficos categorizados em 40 simétricos e simples, 40 simétricos e complexos, 40 assimétricos simples e 40 assimétrico e complexos.

Helmut Leder, um dos autores do estudo explica que o propósito de escolher um grupo especialista em arte foi justamente verificar como o conhecimento prévio em arte poderia afetar a percepção de simetria.

“Os especialistas podem ter um conjunto diferente de critérios que guiam suas preferências. Se esse for realmente o caso, poderia servir como evidência de que a preferência por simetria não é tão universal como se pensa”

Helmut Leder

Os resultados demonstraram que os não-especialistas avaliaram os elementos gráficos simétricos complexos como os mais belos, enquanto os especialistas em arte avaliaram em geral os elementos gráficos não-simetricos como os mais belos.

Para comprovar a beleza na simetria, os dois grupos teriam que concordar que os elementos gráficos simétricos eram os mais bonitos. Isso mostra como a diferença entre culturas, incluindo conhecimento prévio influenciou o resultado.

Os pesquisadores afirmam que ainda é necessário ampliar o estudo, a fim de investigar outros grupos e testar novas hipóteses considerando aspectos de personalidade e diferentes tipos de simetria.

Referências:

https://www.bbc.com/future/article/20150622-the-myth-of-universal-beauty

https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/0276237418777941