Entre abril e junho deste fatídico ano, a historiadora e antropóloga brasileira Lilia Schwarcz realizou uma série de entrevistas e publicou textos falando sobre a pandemia de Covid-19, sempre relacionando com impactos sobre as desigualdades estruturais da sociedade brasileira. Esse material culminou em um ensaio chamado “Quando acaba o século XX“, disponível gratuitamente no formato eBook.

“Lilia Moritz Schwarcz cravou um diagnóstico de grande repercussão: “Ao deixar mais evidente o nosso lado humano e vulnerável, a pandemia da Covid-19 marca o final do século XX”.

No momento em que estamos caminhando para uma paisagem onde as coisas “estão voltando ao normal“, é preciso dar alguns passos para trás e perceber como essa narrativa deve ser problematizada. O ensaio pode ser lido em menos de 30 minutos e a única certeza é que após a leitura, não será mais possível voltar ao lugar de onde partiu.

Para enfatizar mais ainda a necessidade desta leitura, conheça 10 reflexões urgentes presentes no eBook:

10 reflexões urgentes sobre a pandemia de Covid-19

“E nem sempre “casa” quer dizer “lar”. Casa sempre foi um local de repouso e abrigo. Já lar é um conceito criado pela burguesia, no século XIX, que tendeu a idealizar esse lugar, sublinhando o modelo de família estruturada e esquecendo dos conflitos por lá inerentes.”

“Por sinal, o Brasil consistentemente vai ganhando posições de proeminência nesse quesito. É o sexto país mais desigual do mundo. É o primeiro, junto com Catar, dentre os países democráticos. O Brasil não é um país pobre, mas é um país de pobres.”

“Por isso Hobsbawm tem razão: os séculos não terminam com o virar da folhinha do calendário, mas quando grandes crises colocam em questão verdades que já pareciam consolidadas.”

“Ao deixar mais evidente o nosso lado humano e vulnerável, a pandemia da Covid-19 marca o final do século XX.”

“Negar o passado significa também não aprender com ele — com nossos erros e acertos.”

“Somos capazes de “ver”, pois esse é um atributo biológico; no entanto, temos muita dificuldade de “enxergar”, uma vez que essa é uma escolha cultural e todos nós somos “míopes culturais” e sistematicamente fazemos da “branquitude” uma realidade sem pejas e receios.”

“Nossa prepotência é um pouco esta: achar que somos uma sociedade muito racional, que se pauta pela tecnologia, quando na verdade estamos sempre esperando por um milagre atrás do último”

“Se a humanidade aprendesse com o passado, os historiadores seriam visionários.”

“Uma doença só existe quando se concorda que ela existe. É preciso mostrar para a população que estamos doentes. Se não temos diretrizes claras por parte do governo, se nosso presidente insiste em dar contraexemplos e apoiar aglomerações, não há argumento que dê conta de se opor ao negacionismo de parte da população brasileira.”

“Por sinal, nada mais denunciador do que o conceito de “novo normal”. A pergunta que não quer calar é: “novo normal” para quem? Para as elites que moram em seus “lares”, têm seus computadores individuais e quartos privativos ou para a imensa maioria da população brasileira que não tem acesso a essas benesses?”